sábado, 3 de novembro de 2012

Desemprego até para cargos de chefia


Dispara desemprego em cargos de chefia
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Há mais de 9.300 directores de empresa e altos quadros públicos sem trabalho, mas apenas 100 conseguiram emprego nos primeiros oito meses do ano. Baixas ofertas e salários vão manter-se.
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O número de directores e administradores no desemprego disparou nos últimos quatro anos. Em Agosto, eram 9.306 as chefias inscritas nos Centros de Emprego, quase o dobro do registado em 2008.
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E praticamente todos continuam sem encontrar colocação. Aliás, a resposta dos centros de emprego a estes casos é quase nula: nos primeiros oito meses do ano, surgiram apenas 245 ofertas de trabalho para cargos de chefia, segundo revelam os dados do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). E só 103 vagas foram ocupadas – ou seja, os centros de emprego só conseguiram arranjar trabalho a 1,1% dos altos quadros inscritos.
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Ana, de 37 anos, conhece bem esta realidade. «Desde que estou desempregada, há sete meses, tive uma única oferta para a minha função através do centro de emprego e ofereciam-me 600 euros por mês» – conta ao SOL esta ex-directora financeira de uma empresa na área dos media, explicando que lhe compensa mais manter o subsídio de desemprego de 1.257 euros mensais (o valor máximo permitido no primeiro trimestre do ano, que foi entretanto reduzido para os novos desempregados).
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Maioria dos cortes nas empresas privadas
Em Março passado, a sociedade onde Ana trabalhava, em Lisboa, fez um despedimento colectivo. Pela primeira vez desde que se licenciou em Gestão, Ana inscreveu-se no centro de emprego.
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Tal como ela, a esmagadora maioria das chefias inscritas nos centros do IEFP vem de pequenas e médias empresas privadas. Dos mais de 9.300 quadros inscritos nos centros de emprego, 7.503 foram despedidos de empresas particulares. Só os restantes 1.800 chegam da administração ou de empresas públicas.
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«Os directores e outras chefias, que representam um maior encargo salarial, são os primeiros a serem dispensados», explica o presidente da Associação Nacional de Pequenas e Médias Empresas (ANPME).
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Nuno Carvalhinha sublinha ainda que o despedimento deste tipo de profissionais é, na maioria dos casos, feito para tentar impedir que as empresas fechem as portas, reduzindo os custos com pessoal. «Por isso, estas chefias acabam por não ser substituídas», diz o líder dos pequenos empresários, recordando que há cerca de 20 mil pequenas e médias empresas a decretar insolvência todos os meses.
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Este cenário leva a que se verifique um aumento dos pedidos de ajuda de altos quadros à Deco (Associação de Defesa do Consumidor), para resolverem as dívidas.
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Quadros mais jovens são os preferidos
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A situação tem-se agravado nos últimos anos. Em 2008, o número de chefias no desemprego rondava os 5.100 e representava apenas 1,3%, do total de desempregados. Hoje, há 9.300 directores e administradores inscritos, ou seja, 1,4% do total dos que procuram trabalho (641. 218).
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Os homens a partir dos 35 anos serão os mais atingidos por este desemprego. Mas é sobretudo depois dos 40 anos que, segundo o presidente da associação de pequenas e médias empresas, é mais difícil encontrar colocação.
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«Há pouca oferta e os mais jovens estão mais dispostos a trabalhar por menos dinheiro, durante mais tempo e com flexibilidade de horários» – reconhece Nuno Carvalhinha, lembrando que tem havido uma preocupação do Estado em dar apoios às empresas que recrutam jovens licenciados, com estágios profissionais e isenções para a Segurança Social. «O Estado devia também apoiar as empresas que contratam quadros com mais de 40 anos, que são uma mais-valia pela sua experiência profissional», defende o dirigente.
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Até lá, muitos acabarão por não ter outra alternativa a não ser a de criarem o seu próprio negócio ou emigrarem. Aliás, segundo especialistas em empresa de recrutamento de altos quadros, a situação é «preocupante» porque o mercado não consegue absorver estes quadros. Para muitos a solução é mesmo mudar totalmente de vida.
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O IEFP está a apoiar a criação de novos negócios, dando uma pequena ajuda no investimento inicial. «Mas é preciso que sejam uma alternativa viável. Dos projectos já apoiados pelo IEFP, 70% fecharam nos primeiros dois anos de vida», remata o presidente da ANPME, que faz o acompanhamento destes projectos.
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A criação de um projecto próprio está também a ser estudada por Ana, que ainda não encontrou nada para avançar «com garantias e segurança». Por isso procurar emprego no estrangeiro é cada vez mais a solução. «Já estamos a assistir a uma fuga para outros países fora da União Europeia, como Angola, Moçambique ou o Brasil», diz, lamentando que este investimento e formação se percam.


 

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