segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Opinião – Desemprego e pobrez

Joaquim Valente
Para minorar as situações de pobreza em Portugal, o Estado desde o século XIX, de uma forma organizada, é o principal interventor social, a par de outras instituições em especial a Igreja Católica.
.
As causas da pobreza não são sempre as mesmas, umas resultam da incapacidade física ou mental para o trabalho, outras, a grande maioria, é de quem quer trabalhar e não tem e não encontra emprego.
.
Infelizmente, hoje em Portugal a maior parte da pobreza já está relacionada com o desemprego, que por sua vez tem origem nas políticas financeiras, económicas e sociais levadas a cabo pelo governo.
.
De acordo com as estatísticas quase um em cada cinco portugueses em idade activa encontra-se desempregado por causas extrínsecas ao próprio indivíduo principalmente em pessoas que sempre viveram do seu trabalho
.
Pelo desemprego são atingidos os jovens, os menos jovens, os mais qualificados, os menos qualificados, desde engenheiros, a professores, pessoal médico, técnicos, administrativos, empregados da restauração e da construção, etc, homens e mulheres que querem ser úteis ao País com o seu trabalho e não o têm.
.
Nunca, na história do Portugal Contemporâneo, os índices de desemprego e de pobreza social atingiram tais proporções, com a panóplia de consequências sociais, económicas, psicológicas e culturais.
.
A gravidade e os perigos sociais desta pobreza forçada e injusta, é um dado que qualquer governo avisado e sensato devia ter em conta, por tudo aquilo que em si podem representar em termos de convulsões sociais.
.
Um pouco de atenção ao evoluir da história do Republicanismo em Portugal é suficiente para se deduzir quão determinante são para a “saúde” política, a estabilidade social, o emprego e o desenvolvimento económico.
.
O desemprego, a fome, a indigência social, a iniquidade e a injustiça humanas são “ingredientes explosivos” do ponto de vista civilizacional, com consequências imprevisíveis.
Porque persiste o governo em querer “detonar” tal carga explosiva?
.
Ainda esta semana vimos anunciar pelo responsável político do sector o corte de 10% do subsídio de desemprego, com a justificação de que o objectivo principal era fazer regressar os desempregados rapidamente à vida activa. E onde estão os empregos?
.
Porque se afronta tão indignamente a vida humana e familiar? O subsídio de desemprego é das tais medidas de protecção social que mais consensos gera em todos os quadrantes ideológicos e na população em geral, por mais brutais e enormes que sejam os impostos a que os Portugueses são obrigados.
Onde estão os políticos que sempre defenderam a doutrina social da Igreja?
.
Em Maio comemoram-se duas efemérides muito importantes: a publicação das Encíclicas Sociais da Igreja: a “Rerum Novarum” e a “Centesimus Annus”. Num contexto de grande confrontação social, onde as pessoas estavam à mercê de uns senhores desumanos e impiedosos e à mercê da cobiça desenfreada do sistema financeiro, a Igreja Católica não esteve à margem da grave questão social e Leão XIII apresentou ao Mundo a sua Doutrina Social, onde o pilar base assenta na defesa da dignidade da Pessoa Humana e da Família.
.
É actual revisitarmos alguns desses princípios, e tê-los sempre presentes deveria ser um imperativo daqueles que se dedicam à Respública. É o princípio da distribuição dos bens, a reafirmação do princípio da subsidiariedade, o facto da economia de mercado não se poder realizar num vazio institucional, jurídico e político, cabendo ao Estado entre outras coisas vigiar e orientar o exercício dos direitos humanos, com a preocupação de partilha, do amor ao próximo, de modo a que todos possam viver com dignidade humana.
.
A democracia ainda possibilita que cada um, no momento certo, possa decidir e ser dono da sua consciência.
Fonte: Beiras.pt

Sem comentários:

Enviar um comentário