quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Desemprego na Europa reflete questões estruturais das nações

Para especialista, uma das causas do desemprego é a falta de investimento em educação de profissionais. Foto: Getty Images
A crise no continente europeu colocou a população em alerta. O aumento nas taxas de desemprego nos países que mais sofrem com a crise, como Grécia, Espanha, Itália e Portugal, é notável. Quase nenhum setor se salvou, e os motivos para isso não estão somente na crise que cada um enfrenta, mas em questões estruturais, que apresentaram suas consequências a longo prazo.

Em setembro de 2011, a Espanha apresentava uma taxa de desemprego de 22,5%. Em agosto deste ano, o número já havia chegado a 25,1%. Aumentos significantes também puderam ser vistos em Portugal e na Itália. No mesmo período, o país ibérico passou de 13,1% para 15,9%, enquanto na Itália subiu de 8,8 a 10,7%. De acordo com dados fornecidos pelo Consulado Geral da Grécia em São Paulo, em 2008, antes de crise, a taxa de desemprego no país era de 7,2%. Em 2012, chegou a 23,6%, um crescimento alarmante.

O professor de economia internacional da ESPM-RJ e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Fernando Padovani, explica que há atualmente nestes países uma falta de investimentos e de consumo devido às incertezas da crise. As pessoas que planejavam fazer consumos importantes, como comprar uma casa ou um carro, decidiram esperar a economia se acalmar para não correr riscos, por exemplo. "Se paralisa o consumo e o investimento na Europa. Então, as empresas não têm mais necessidade de empregar tanta gente para produzir", observa Padovani.

Os governos endividados, por sua vez, não podem ajudar. Padovani lembra que estes quatro países estavam gastando muito em espaços de tempo curto, o que acentuou o problema. Quando a crise atingiu a Europa, a dívida aumentou para todos os países, afetando mais quem estava em situação mais complicada. "Todos os países dobraram o endividamento, só que para quem já estava no limite, a situação passou de perigosa, para insunstável", ressalta Padovani.

Para o coordenador do Núcleo de Economia Empresarial da ESPM-Sul, Fábio Pesavento, as causas da situação de crise que vive cada um dos países vêm de questões estruturais. Uma delas é a diminuição da população economicamente ativa. "Nestes países, a população não economicamente ativa é muito maior do que a que está trabalhando. Não tem gente suficiente no mercado de trabalho para bancar os que já pararam de trabalhar", explica Pesavento. Ele ainda acrescenta: "o Governo gasta mais com previdência do que arrecada com quem está mercado de trabalho".

Outra questão citada pelo professor da ESPM-Sul é a educacional - ou investimento em capital humano. Pesavento explica que um trabalhador alemão é mais eficiente que um português, por exemplo, devido ao treinamento. "Ele recebeu uma educação que faz com que ele produza muito mais em um espaço de tempo menor. O produto que ele faz fica mais barato", reforça Pesavento. Isso faz com que produtos gregos, espanhóis, portugueses e italianos não tenham a mesma competitividade que um alemão. Além disso, ele afirma que os principais talentos destes países estão indo para a Alemanha pelos melhores salários.

Pesavento acredita que uma das soluções a curto prazo para a crise seria pela taxa de câmbio. A desvalorização cambial tornaria a exportação mais competitiva. "Porém, Portugal não pode fazer isso porque está dentro de uma união monetária", exemplifica. O especialista afirma que o recomendável seria investir em setor que pode gerar mais empregos, como o da construção civil, o que poderia solucionar o problema a curto prazo. Depois disso, viria o investimento em educação para qualificar a mão-de-obra.

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